sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Conto de natal




Ai! Para o Tónio e para a sua pobre mãe, a vida continuava a correr com dureza.
Órfão de pai, com pouco mais de oito anos, era só ele a auxiliar a pobre mulher, apanhando – lhe feixes de lenha e trabalhando com ela por causa dos vizinhos, quantas vezes em serviços superiores às suas forças e demasiado rudes para a sua idade!
Como a vida lhe decorrera sempre sem um sorriso, o infeliz era naturalmente triste, mas, ao mesmo tempo, era bom e resignado.
Entrara Dezembro e com ele a invernia, que ia decorrendo inclemente.
Á medida que se aproximava a noite de natal, Tónio ia pensando com amargura:
-Quantos meninos que nessa noite têm sido comtemplados com uma lembrança do Menino Jesus! E eu nunca! Nunca! Porque terá sido? Uns dizem que encontram brinquedos metidos nos sapatinhos; outros; que mesmo dinheiro para comprarem o que tenham maior necessidade…
Se também este ano se tornará a esquecer de mim?!... Que eu nada me admiraria: ainda que me quisesse trazer alguma coisa, onde é que me havia de deixar, se eu nunca tive sapatinhos, para lhe pôr á espera em cima da pedra da chaminé?
 A parte final do solilóquio, terminada em voz alta, era, às vezes, ouvida pela mãe, em cujas faces se viam deslizar algumas lágrimas silenciosas.
-Pobre anjinho! – Pensava tão criança e desiludido!
Ó meu Jesus! Ajudai-me a dar-lhe este ano uma alma nova.
Na decisão de um movimento, viu-se que tivera uma inspiração e que fizera certo projecto…mas calara-se muito calada com a sua ideia.

Chegara a noite de consoada. Para a ceia de que a pobre da Ana Torcida, vizinha e sem mais ninguém, viera participar, mão caridosa dera comida abundante: batatas, tronchos, bacalhau, polvo, arroz e até mexidos e rabanadas.
Tónio, como criança, atirara-se com delícia e sofreguidão a todos os manjares, as pobres mulheres pouco mais fizeram que tocar em algumas vianda. Finda a ceia e por causa do pequeno, jogara-se ainda o rapa, a pinhões.
Até que a Ana Torcida resolveu despedir-se e recolher ao seu casebre.
Sozinha, a mãe de Tónio, antes de se deitar, fora pé ante pé buscar alguma coisa, que colocara sem ruído na pedra da chaminé; em seguida metera-se na cama com a criança.
Quando, no outro dia, Tónio acordou e viu sobre a pedra do fogão, em vez das chancas, uns sapatos novos e lindos, ficou radiante e saltou aos beijos á mãe e ao Menino Jesus, pregado na parede, ao colo de Nossa Senhora.

Augusto Moreno

3 comentários:

  1. lindo conto de natal que encontrei num livro de leitura da 3ºclasse do ano de 1946.

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  3. lindo texto ...de amor de MAE...e amor a JESUS ...mil bjs de luz

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